Meninas revelam a primeira experiência sexual, as frustrações e alegrias na cama.
Pesquisas mostram que um entre cinco adolescentes transa antes dos 15 anos. Muitas vezes, com parceiro pouco íntimo
Três moram no Plano Piloto, duas dividem confidências em festas na Cidade Ocidental.
Todas escrevem diários.
Registraram em páginas coloridas, enfeitadas de recortes, fotos, códigos cifrados o dia e a hora em que perderam a virgindade.
Foram para a cama antes de dançar a valsa de debutantes.
Debutar é costume das antigas. As meninas de hoje não têm medo de levar um fora depois da transa. Começam no sexo pouco depois do primeiro beijo.
Transam por prazer, curtição.
Seja com o namorado, rolo ou conhecido da noite.
Em casa, no carro ou ao ar livre.
Aos 12, 13, 14 ou 15 anos.
Relatório com sete pesquisas divulgado este mês confirma: um em cada cinco jovens tem relações sexuais antes dos 15 anos. No Rio de Janeiro mostram que a estréia no sexo é aos 14 anos. E, em quase metade dos casos (45%), na companhia de um parceiro pouco conhecido.
As alegrias de frustrações costumam ser guardadas em segredo.
Pais e professores são os últimos a saber quando sabem.
As amigas, só conhecem o lado bom da aventura. E os diários ficam com a história real.
Nos relatos a seguir, não identificamos as meninas em respeito à sua intimidade.
Ele era carinhoso. Ela namorava há um mês quando decidiu transar. Tinha 13 anos, o namorado, 16. Foi numa sexta-feira à tarde, na casa dele, dentro de um quarto de janela preta, no prédio cinza virado para o Sul. Ficaram nus frente a frente pela primeira vez.
Depois que tiramos a roupa, não tinha mais jeito, né?, brinca a adolescente, pele clara, cabelos lisos e castanhos. Ela conta que o namorado era carinhoso. Passou uma semana conversando sobre o grande dia. Mesmo decidida e tranqüila, lembra que doeu. “Pra caraca, como dor de parto”, supõe.
O prazer do outros dias compensou. Naquele final de semana, só voltou para casa no domingo, dia em que almoçou com a mãe e contou tudo. “Desde os 11 anos ela sempre conversou comigo, me ensinou a usar camisinha e também falou sobre a pílula do dia seguinte.”
Cinco meses depois da primeira vez, o relacionamento terminou. Problema de incompatibilidade. Além de ciumento, o rapaz queria variar demais na cama. A moça não aceitava posições diferentes do “papai-mamãe”. Sexo oral e anal, nunca. Quando se entregou, “sabia que não era pra sempre”.
Ela gosta de transar.
Acha que sexo só por tesão é bom, mas admite que com amor é melhor ainda. A conclusão a que a adolescente de 14 anos chegou é motivo de tormento para muitos pacidentes. Depois de tornar o sexo corriqueiro, casais entram em crise. É quando o amor perde o sentido. O sexo vira atividade física. “Para não chegar a esse ponto, essa garotada precisa de educação sexual na escola e diálogo com os pai”. “Sem isso, podem passar dificuldade para encarar a sexualidade”.
Ele era bonito. Ela estava em uma festa de amigos quando beijou pela primeira vez o rapaz com quem perdeu a virgindade.
Tinha 14 anos.
Estava decidida a se comportar e só beber refrigerante. Depois de um tempo, os meninos avisaram: “Colocamos tesão de vaca no seu guaraná.” A adolescente começou a sentir um calorão. Ouviu os colegas dizerem que tinha alguém esperando por ela no quarto. Encontrou o rapaz bonito. Quando viu, já estava na cama. Não teve prazer. Sentiu dor. Chegou em casa sangrando e arrependida. “Mesmo assim, viciei”, conta a jovem negra, magra, seios pequenos e aparelho dos dentes à mostra no belo sorriso.
Depois da primeira vez, vieram muitas vezes. Durante um ano, no mínimo, três vezes por semana. Sente muito medo dos pais descobrirem tudo. Trabalham o dia inteiro e não gostam muito de conversa.
Nos últimos meses, ela vem tentando controlar e entender a própria sexualidade. Entrou no grupo jovem da Igreja e passou a refletir sobre o que estava fazendo. “Agora quando fico, só deixo pegar nos peitos”, diz a menina, que sente raiva do passado e tem medo de não conseguir namorado.
Os traumas dos primeiros encontros são a principal causa de problema sexual entre rapazes e moças com idade entre 20 e 30 anos que procuram o nosso Instituto de Ciências Comportamental. “Não é possível falar em atividade sexual precoce totalmente saudável”.
Para ela, a precocidade está relacionada com o excesso de estímulos sexuais. Os adolescentes estão informados sobre camisinha, só não entendem muito bem o que o sexo representa para a vida. “Eles acham que já têm maturidade para saber da importância de um vínculo sexual e acabam entrando em crise emocional pouco tempo depois.”
Ele era o homem que eu amava. Depois de um ano e dois meses de namoro, a adolescente decidiu transar. Foi seu primeiro namorado. Tudo aconteceu no quarto dela, não havia ninguém em casa. “Ele tirou a roupa, eu também, e colocou a camisinha. É claro, nunca pode faltar”, escreveu a moça em seu diário.
Ela acha que demorou para se convencer de que estava na hora, conta que só deixou depois de muita conversa. A jovem de cabelos castanhos escuros e olhos sempre pintados a lápis, fã de grupos de pagode, achava que não estava preparada. Tinha dúvidas se o namorado era o homem certo. Seis meses depois da primeira transa, os dois continuam juntos. Ela não sabe se já chegou ao orgasmo. Só tem certeza de que sente prazer. Na primeira vez, doeu um pouco. “Confesso que a segunda foi bem melhor, eu já sabia como devia agir e estavam com menos vergonha”, diz.
Ele era o meu bebê. Foi tudo especial.
Ela tinha 15 anos, o rapaz conseguiu as chaves da casa da avó e fez uma surpresa.
A estréia foi dolorida e sangrenta, mas tudo bem. “O que importa é que cada dia estamos melhor, mais entrosados”, comemora a adolescente romântica, que escreve poesias no diário, espalha corações e rabiscos nos dias de amor.
Ele era massa. Com 15 anos, separou-se do primeiro namorado e amante. Sem grandes traumas. Esteve com ele durante seis meses e meio. Mas pouco depois da primeira transa, tudo acabou. Desde então, a moça tímida de cabelos cacheados já teve outros parceiros. Sua maior preocupação é com gravidez e doença. Com códigos que só as colegas conhecem, ela anota na agenda os dias em que algo dá errado.
Na maior parte das vezes, a camisinha estoura.
Até agora, Elaine deu sorte.
Está fora das estatísticas que mostram: uma em cada sete garotas sexualmente ativas engravida.
Todas as cinco meninas que cederam seus diários contam que costumam usar camisinha.
Querem prazer sem filhos.
Acham que estão apenas no início.
Pretendem ter outros homens.
Depois, só depois, querem encontrar o companheiro da vida.
Quero diário, foi hoje…
14 de dezembro de 2001
“Estou sentindo dores e com uma ferida enorme no coração”
20 de setembro de 2002
“Foi muito legal na hora que não doía. Na hora que doía, eu não gostei”
30 de dezembro de 2003
“Não me arrependo de nada que eu fiz, afinal era a minha hora”
1º de fevereiro de 2003
“Você entrou dentro de mim, no meu coração, preencheu meu vazio”
6 de junho de 2002
“Sai pra lá, foi bom hoje eu sou mulher e não sou mas menina”
IGOR HUNSAKER.