Tenho a consciência de que a minha cor de pele….
- 6 anos atrás
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- por hunsaker
Sem a pretensão de ser o dono da verdade, apenas o compromisso de dizer a minha verdade, faço aqui a minha reflexão. E convido a todos os leitores e amigos, brancos e negros, a fazerem o mesmo.
Tenho a consciência de que a minha cor de pele e o meu cabelo liso jamais foram motivo de preconceito. E por mais que tente me colocar no lugar de quem sofre esse tipo de violência ignóbil, não é a mesma coisa. Dor não se imagina, sente-se. Só depois que tive pedra nos rins _ok, reconheço que sou fraco para dor_ tive a exata dimensão de que o bagulho é insano.
Tenho a consciência de que as “gerais” que tomei na vida, e foram algumas, jamais teve qualquer relação com a minha cor de pele. Normalmente foram em cercanias de aeroportos por estar vestido ou saída de casas noturnas… Ou por estar na companhia de mulheres negras. Que são alvos preferenciais desse tipo de abordagem, mesmo quando elas são feitas por policiais negros!
Tenho a consciência de que as pessoas não atravessam a rua, à noite, só pelo fato de eu estar passando no local. E olha que não sou conhecido por, como diria?, vestir-me de uma forma considerada a mais elegante pelo padrão coxinha da sociedade.
Tenho a consciência de que os termos “denegrir”, “cabelo ruim”, “a coisa tá preta” e similares são usados comumente pela sociedade, inclusive por pessoas que não são contaminadas pelo abjeto vírus do racismo. Acredito que isso ocorra porque o preconceito contra o negro está interiorizado e é relevado, aceito como algo normal… Como um mendigo que dorme na calçada: é um absurdo, mas como está sempre lá, não choca mais ninguém.
Tenho a consciência de que as mulheres com quem tive relacionamento formal, o chamado namoro, compromisso, não tiveram problemas relacionados a cor da minha pele para, por exemplo, me apresentar aos familiares e aos amigos.
Tenho a consciência de que nenhuma mulher, branca, amarela ou negra, transou comigo só por curiosidade para saber como é um branco na cama ou, mais especificamente, para conhecer um pênis branco, como se fosse algo exótico, diferente da “normalidade”.
Tenho a consciência de que ser branco jamais foi um empecilho para arrumar emprego ou para ser aceito em qualquer grupo do meu relacionamento pessoal ou profissional.
Tenho a consciência de que na minha turma de graduação, no universo de cerca de 70 alunos, havia dois ou três negros (lembrando que Medicina, tem preço menos acessível) E que, na turma da pós-graduação em um grupo de aproximadamente 25, não tinha um negro. Esses números me fazem ser absolutamente favorável às chamadas ações afirmativas, às cotas. Não é o ideal, óbvio, mas é o justo. E continuará sendo enquanto o ensino público não for universalizante e do mesmo nível do ensino privado. Falar em meritocracia enquanto uns só estudam, e nos melhores colégios, enquanto outros trabalham, sustentam a família e, quando dá tempo, estudam (quando não há aula vaga por falta de professor) é de uma miopia armagedônica!
De formação e família judaica, tenho a consciência de que a minha religião nunca foi um problema para as pessoas. Continuo judeu, mas no Brasil homens religiosos estatisticamente falando é de maioria negra.
Tenho a consciência de que a minha opinião sobre a causa negra é absolutamente irrelevante.
Sou o que sou. Sou incoerente por vezes, sou sonhador sempre, temo o desconhecido sem contudo deixar de arriscar, tenho planos e projetos, construí e ví cair em minha frente castelos. Como um anjo voei aos céus mas longínquos, e como um cometa caí. A queda me machucou, contudo me fez mais forte. Sou falho e impreciso. Simplesmente indefinível, enfim sou apenas um IGOR mas, o IGOR HUNSAKER.