AS SANTAS PASSEIAM NO INFERNO …

Santa não desiste, se cansa. A Santa tem essa coisa de ir até o fim, esgotar todas as possibilidades, pagar pra ver. A Santa paga mesmo. Paga caro, com juros e até parcelado. Mas não tem preço sair de cabeça erguida, sem culpa, sem "E se"! A Santa completa o percurso e ás vezes fica até andando em círculos, mas quando a Santa muda de caminho, nossa, é fim de jogo para nós. Enquanto a Santa enche o saco com ciúmes e saudade, para de reclamar e agradeça! Porque no dia que a Santa aceitar tranquilamente nos dividir com o mundo, a Santa ficou mais compreensiva, a Santa parou de se importar, já era. Quem ama, cuida! E a Santa cuida até demais, mas dar sem receber é caridade, não carinho! E elas estão numa relação, não numa sessão espírita. A Santa entende e respeita nosso jeito, desde que nós a supramos pelo menos o mínimo das suas necessidades, principalmente emocionais, porque carne tem em qualquer esquina. Muitos homens não sabem, mas além de peito e bunda, a Santa tem sentimentos, quase sempre a flor da pele. São damas, não dramas, procurem entendê-las. Santa não é boneca inflável, só tem quem pode! Levar muitos corpos pra cama é fácil, quero ver conquistar corpo e alma de uma mulher que na verdade são verdadeiras SANTAS.

Mas eu agora não sou mais uma menininha…

PACIENTE 28619

Desde que eu vim pra Floripa, pra fazer a quinta serie, eu e minha melhor amiga Denise criamos uma tradição: sentar num banquinho da Beira Mar pra ver a corrida dos milicos. Lá no sul a gente chamava de brigadianos, mas a De me ensinou desde o começo que em Floripa eram os milicos. Qualquer que seja o nome, aquela onda homens bronzeados, músculos, lindos me dava arrepios desde sempre. A gente acordava cedo, colocava uma roupinha de jogging, sentava num banquinho e esperava “a banda passar”. A coisa toda era muito inocente, mas a gente morria de suspirar.

Depois eu fui morar fora, a ´tradição´ se perdeu, mas a lembrança vai ser sempre viva na minha memória.

Agora, anos depois, já adulta, formada, de volta a essa cidade que eu amo tanto, resolvi dar uma corridinha na Beira Mar outro dia de manhã. Juro que sem nenhuma intenção – JURO!!! Apesar de morar na praia, tinha uma reunião com um editor novo no centro da cidade cedinho. Depois tinha um almoço também no centro. Resolvi então levar uma roupinha pra correr nesse meio tempo.

Qual não foi a minha surpresa quando descobri que o horário deles mudou: estavam correndo às 10 da manhã. Quando, de longe, eu senti a vibração do peso de toda aquela testosterona no chão, tirei o i-pod depressa pra escutar e apertei os olhinhos pra enxergar. Lá vinham eles todos correndo num ritmo perfeito, aquela massa de homens fantásticos. Não tive como não me emocionar.

Mas eu agora não sou mais uma menininha, não ia sentar no banco e esperar. Resolvi empinar o peito e passar no meio deles, no sentido oposto. Sentindo todos aqueles olhares gananciosos em cima de mim, inebriada por aquele cheiro delicioso de suor com testosterona, preciso confessar que me senti tonta. E uma coisa (quase) inédita aconteceu: perdi o rebolado! Quando eu voltei daquele semi-transe induzido me dei conta que tinha tropeçado, torcido o pé e tava quase caindo.

Obviamente, aquele era o lugar perfeito pra quase cair: ao mesmo tempo em que senti a fisgada no tornozelo e a perda do equilíbrio, senti um sem número de mãos fortes me amparando. Meu Deus, que delícia!!! Quase desmaiei de novo, só pela diversão. O sargento – ou quem quer que fosse que estava no comando – autorizou então que dois deles parassem com os exercícios matinais pra ´me socorrer´.

Não sei se eles eram os mais bonitos, eles me pareciam todos lindos, mas eram duas estátuas gregas – com o perdão do clichê. Me colocaram sentada num banquinho – ah, se esses banquinhos falassem – e examinaram meu tornozelo cuidadosamente, muito calados. A cada toque de uma das mãos eu tinha um mini orgasmo. Eles me perguntavam se tava doendo, apertavam aqui e ali, comentavam que tava muito inchado, mas eu juro por Jah nos céus Rastafari que não conseguia sentir nada além de arrepios pelo meu corpo todo (em uma certa parte sobretudo) e o meu coração batendo tão forte que dava pra medir meus batimentos nas pontas dos cabelos. 

Como o quartel, ou brigada, não consegui me ater ao nome, ficava do outro lado da rua, resolveram me levar pra lá – o médico deles me examinaria. Eu fui andando (não que eles não tivessem oferecido pra me levar no colo, mas eu honestamente não ia perder a oportunidade de me segurar nos dois) e atravessamos a avenida assim, abraçadinhos. 

Na hora de me deixar no consultório do médico do exército, quando tive que me soltar daqueles dois fabulosos monumentos, quase chorei. Mas eles disseram que eu seria bem cuidada, que estaria em boas mãos. E assim eu pensei que terminaria meu relato – sem presente de Natal, me lembrando da Cássia Eller: “por ser uma menina má”. 

A minha desolação terminou no exato instante que a porta se abriu e a criatura mais surrealmente linda da biosfera surgiu diante dos meus olhos. Eu não sei se o exército brasileiro faz algum tipo de pré-seleção, mas a impressão que eu tive foi que qualquer ser que parecesse remotamente humano não estaria ali. E aquela coisa fantástica toda abre um sorriso desconcertante e pergunta: 

–  Machucou o pezinho?

Achei que ia desmaiar – juro! Então ele vem, me ajuda a levantar, passa meu braço ao redor do pescoço dele e me carrega até o consultório. 

Lindo, alto, charmoso, prestativo, provavelmente inteligente… não pude resistir. Enquanto ele fechava a porta ficamos de frente um pro outro, muito, muito perto – posição completamente não intencional. Mas aquilo foi demais pra mim. Eu já tava morrendo de tesão há horas, era muita informação. Não resisti, aproximei o meu rosto do dele um pouco mais, mas não beijei. Fiquei parada ali por um segundo, com o rosto grudado no dele, respiração ofegante. Foi a deixa dele. 

Ninguém conseguiu pensar em ética, Hipócrates, amor à pátria – nada disso. Falando por mim, eu não conseguia sequer pensar; só sentir. Sentia aquelas mãos habilidosas, mas ao mesmo tempo fortes – afinal, ele é, acima de tudo, um soldado – subindo pelas minhas costas, pela minha nuca, puxando o meu cabelo enquanto chupava os meus lábios com forca. A boca carnuda ia descendo pelo meu pescoço, me lambendo, me mordendo, me tirando do sério… eu entrei num transe tão profundo que quando percebi estava completamente nua em cima da maca, enquanto ele examinava cada pedacinho de mim. Eu saía do meu corpo e voltava. Ele também. De repente eu percebia que ele tava dentro de mim… tão dentro de mim que eu chegava a não saber onde eu terminava e ele começava. Cada vez que ele saía me dava vontade de implorar pra ele entrar de novo. Todo perfeito. Manhã perfeita. Corrida perfeita. Sexo celestial. 

Coloquei a roupinha justinha e ele me acompanhou até a rua, onde um táxi esperava – nada de dirigir por uma semana.

Enquanto a gente caminhava pelo jardim do quartel em direção à rua, subia – de volta do jogging – a tropa. Eles me olhavam de canto do olho, morrendo de vontade de virar a cabeça, mas afinal de contas eu estava acompanhada do sargento. 

Não consegui ir à reunião. Não porque não pudesse dirigir; não tinha condições psicológicas – nem vontade – de fazer mais nada naquele dia. Já em casa, abri uma garrafa de Proseco, sentei numa poltrona e passei o resto do dia com o olhar perdido no horizonte: deitada eternamente em berço esplendido, ao som do mar e à luz do céu profundo.

hunsaker

Sou o que sou. Sou incoerente por vezes, sou sonhador sempre, temo o desconhecido sem contudo deixar de arriscar, tenho planos e projetos, construí e ví cair em minha frente castelos. Como um anjo voei aos céus mas longínquos, e como um cometa caí. A queda me machucou, contudo me fez mais forte. Sou falho e impreciso. Simplesmente indefinível, enfim sou apenas um IGOR mas, o IGOR HUNSAKER.

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