É achar que vosso empoderamento virá através do sexo. Não. Vosso empoderamento virá da possibilidade de escolher o sexo. Ou de rejeitá-lo.
O problema de achar que vocês se tornaram mais independentes e poderosas se fizermos muito sexo é cair na armadilha do sexo-obrigação. E não pense que sexo-obrigação é coisa só de mulher casada. Não! Conheço muitas solteiras convictas que acham que só estarão quites com o que o mundo espera delas como “mulheres do século 21” se dormirem com vários caras. Aí se metem naquelas roubadas de sexo horrível com caras que não valem a pena ou que gozam, viram pro lado e as deixam olhando para o teto. É uma espécie de auto-estupro, não?
Muitas SANTAS sempre ficam me perguntando por que raios, antes de casar, não transaram com mais homens. Um dia estava ouvindo uma paciente essa frustração, eu lhe disse: “Santa, mas prazer não é matemática”. Pensem com sabedoria! Porque é isso: toda vez que você disser ‘não’ porque não quer mesmo, e também esta exercendo sua liberdade e seu poder. Liberdade sexual não é fazer muito sexo, é ter o ‘sim’ e o ‘não’ na manga e puder usá-los.
Porque o mundo anda ou 8 ou 80 nessa seara da sexualidade feminina: em alguns ambientes você tem que ser a santa-casta-arrependida-da-igreja-com-trejeitos-infantis-de-tão-inocentes; em outros, tem que ser a poderosa-catadora-sedutora-máxima-que-pode-conquistar-todos-os-homens-e-sabe-gozar-e-trepar-e-fazer-amor-às-vezes. Que chato, né? Ninguém percebe que decidir sobre o uso da sua vagina depende só de você? E dos peitos e de todo o resto?
Fico pensando nas situações da minha vida em que se vocês se sentem mais “empoderada” sexualmente estarão sempre em dois extremos. Algumas, viram pro seu maravilhoso e lindo marido e dessem: “Não, querido, hoje não quero. Não é dor de cabeça, é não estar a fim mesmo”, sem receio algum de que aquele partidão do seu lado fosse “procurar em outro lugar” — porque vocês não som só um buraco no meio das pernas e todo o resto do pacote, amigas, ele não acharia em lugar algum. Outras foram como aquela vez, há muitos e muitos anos, que me meteram num armário duma festa, aos beijos, e disse que queria transar comigo em todos os cômodos da casa. Porque ela queria e pronto. Não porque estava apaixonada ou “fazendo a fofa”. Porque estava com tesão por mim. Simples assim.
Em nenhuma das duas situações eu preciso de desculpas para ter desejos ou para não tê-los. Não preciso achar que não queiram transar naquele dia por falta de amor e nem que querer sexo era sinal de amor. Porque eu, um homem que, como vocês mulheres, não preciso fazer violência sexual, vocês são livres para dizer ‘sim’, mas também livres para dizer ‘não’. Porque o sexo é sua escolha. (E o “sim” só é legal porque a possibilidade de “não” existe, não é mesmo? Que seria do “sim” sem o “não”?) Que bom é sair vivendo espevitada pela vida sendo alguém que é, sim, sexual, mas muito mais que isso.