Uma vez, há não muito tempo…
Uma vez, há não muito tempo, me disseram: o objetivo último e comum a todos neste planeta é aprender a amar. O amor como meta maior, finalidade da qual vivemos esquecendo em meio a buzinas e relógios.
Temos medo de amar.
Amor como “dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação”, como cantava o passarinho Rubem Alves. Amar é, por princípio, reconhecer o fim, saber da morte. A alegria de um encontro que, um dia, tornar-se-á dor das ausências.
Temos medo de morrer.
Como no mais recente longa de Philippe Garrel, “O Ciúme”, em que o adeus permeia todas as relações afetivas. Uma narrativa de tentativas reais e sutis de suicídios. Não sei se “ciúme” seria o melhor nome para titular o filme. Existe ali algo maior do que simplesmente sentir-se enciumado. É a dor da morte que vem com o amor.
“A vida é devagar. Depressa, só a morte”, refletia o ipê amarelo Rubem Alves. O amor é devagar. Depressa, só a separação, o fim, sim, a morte. Morrer é rápido. Georges Bataille, no perturbador livro “A História do Olho”, afirma ser a morte o sentido último do erotismo. Marquês de Sade já dizia: não há melhor meio para se familiarizar com a morte do que associá-la a uma idéia libertina.
Gozar é suicidar-se um tanto.
Deixar-se vazar, diluir-se, sair de si, abandonar-se ao outro.
La petit mort. Uma morte pequenina a cada momento de prazer – tentativa de amar. Gozamos como quem morre. Tememos o amor como quem teme a morte.
Aprender a amar, portanto, é aprender a morrer. Aprender que a vida é despedida, que é encontro e é despedida. Não temer a morte é o segredo dos verdadeiros amantes – aqueles que amam. A eternidade reside no momento único e irrepetível do presente. De resto, é tudo começar e acabar, nascer e morrer.
IGOR HUNSAKER