AS SANTAS PASSEIAM NO INFERNO …

Santa não desiste, se cansa. A Santa tem essa coisa de ir até o fim, esgotar todas as possibilidades, pagar pra ver. A Santa paga mesmo. Paga caro, com juros e até parcelado. Mas não tem preço sair de cabeça erguida, sem culpa, sem "E se"! A Santa completa o percurso e ás vezes fica até andando em círculos, mas quando a Santa muda de caminho, nossa, é fim de jogo para nós. Enquanto a Santa enche o saco com ciúmes e saudade, para de reclamar e agradeça! Porque no dia que a Santa aceitar tranquilamente nos dividir com o mundo, a Santa ficou mais compreensiva, a Santa parou de se importar, já era. Quem ama, cuida! E a Santa cuida até demais, mas dar sem receber é caridade, não carinho! E elas estão numa relação, não numa sessão espírita. A Santa entende e respeita nosso jeito, desde que nós a supramos pelo menos o mínimo das suas necessidades, principalmente emocionais, porque carne tem em qualquer esquina. Muitos homens não sabem, mas além de peito e bunda, a Santa tem sentimentos, quase sempre a flor da pele. São damas, não dramas, procurem entendê-las. Santa não é boneca inflável, só tem quem pode! Levar muitos corpos pra cama é fácil, quero ver conquistar corpo e alma de uma mulher que na verdade são verdadeiras SANTAS.

O céu estava carregado de nuvens cinzentas…

PACIENTE 9821.3

Era o último voo, chegaria pela manhã, alguém do hotel iria buscá-la no aeroporto. Estava enjoada não aceitou o jantar de bordo, pediu uma Coca com gelo, enquanto assistia ao filme. Barbara sempre gostou de filmes de amor, melodramas, histórias arrebatadoras. Talvez “As pontes de Madison” não fosse o melhor filme para o momento, acreditava que a viagem lhe faria bem.

O céu estava carregado de nuvens cinzentas, mas fazia calor quando desembarcou, um jovem sorridente, com o uniforme do hotel, esperava por ela. Na van ia admirando as belezas da cidade. A estrada asfaltada costeava a faixa de praia de mar azul indefinido, havia uma magia que fazia a cor da água se modificar rapidamente, a vegetação era exuberante, a brisa marinha lhe fazia bem. A vila estava a três quilômetros do hotel, poderia andar a pé.
  O hotel era rústico, um casarão de 1600, muito bem conservado, a construção se espalhava por um gramado e pequenas escadas incrustadas na pedra levavam diretamente à praia. A sensação era a de que um galeão pirata poderia aportar a qualquer momento para uma invasão, parecia um cenário de filme. O apartamento era pequeno e confortável, havia uma sacada com rede e espreguiçadeira, uma pequena fonte com peixes ornamentais e um mar à frente.
  Resolveu que não ia pensar, queria apagar os acontecimentos das últimas semanas, ter a certeza de que os problemas ficaram no Brasil, precisava desta solidão. Era cedo ainda, vestiu o maiô e saiu em direção ao mar. Caminhou por muito tempo, a praia era bastante deserta, a monotonia da paisagem só se modificava na pequena enseada nas proximidades da vila, ali havia um pequeno pear onde os barcos descarregavam a pesca.
  Barbara observava o grupo de crianças que cercava as embarcações, pareciam indiozinhos, cabelos pretos escorridos, tinham os olhos puxados e eram barulhentos. Pareciam peixinhos em volta dos barcos, deviam ser crianças felizes e livres. Do convés, o homem atirava pequenos embrulhos que pareciam ser brinquedos, as crianças voltavam nadando até a praia, era uma festa.
  Ela estava deitada à sombra, protegeu o rosto com um livro e adormeceu com o marulhar da água. Deve ter dormido mais de uma hora, despertou com o homem do barco que a observava. O céu estava escuro, novamente, nuvens pesadas se aproximavam da costa. O homem ofereceu-lhe um coco, disse que a observava há bastante tempo e sugeriu que ela voltasse para o hotel antes da tormenta. Ele se apresentou, era simpático e educado, parecia um ótimo anfitrião, pois se ofereceu para levá-la a um passeio na escuna. Barbara agradeceu a bebida e os préstimos daquele cavalheiro que nada tinha de nativo, voltou para o hotel. Não se importou com a chuva e a areia fustigando o seu corpo, queria lavar a alma, limpar a vida, apagar todos os vestígios de futilidades, queria se sentir livre e só. Pediu o almoço no apartamento e dormiu o resto do dia.
  A portaria avisou que o jantar seria servido por volta das 20 horas, escolheu um vestido de renda muito simples e uma sandália sem salto, depois do jantar queria ir à vila conhecer as artes locais.
  O salão era pequeno e aconchegante, escolheu a mesa da janela, havia uma pequena lanterna indiana sobre a mesa, a luz colorida se projetava na parede formando desenhos, a tempestade se afastou e a visão mais bonita era da lua refletindo no mar.
  A voz masculina pegou-a de surpresa, ele perguntou o que Barbara gostaria de ouvir, era o homem da escuna. Estranhamente, mesmo sem conhecê-lo, a companhia deve era agradável, ele falava baixo e tinha carisma. Barbara perguntou se havia Bee Gees, ele pediu ao garçom que providenciasse a música.
  Jantaram juntos, chamava-se Arthur, era solteiro e, como ela, cansou da civilização, dos atropelos e horários da vida na grande cidade, ancorou no mar de Costa Rica e buscava somente uma melhor qualidade de vida. Arthur era um empresário Médico, estava na costa há pouco menos de dez anos, sentia-se bem no que fazia.
  Gostava da companhia dele, apesar de bem mais velho que ela, era um homem culto e cheio de sabedoria. Barbara estava notando que a solidão não era tão boa como imaginava, estava se sentindo bem perto dele. Muito jovem, ela se casou sem entender bem o que seria uma vida a dois, as responsabilidades e rotinas, talvez quisesse só ser livre.
  A vila – de casas em estilo colonial espanhol – era calçada com pedras, havia muitas ruelas, espaços de arte, pequenos bares temáticos e quiosques, tudo muito simples, cheio de cor e aromas. Por vezes, a mão dele tocava na dela e se transformava em faísca, era um contato bom, aconchegante, ela não ia resistir por muito tempo, estava enamorada. A questão não era somente a falta de liberdade, o casamento que a sufocava, Barbara chegou à conclusão que estava completamente carente. Estava gostando do passeio, a cada quiosque, experimentava um coquetel diferente, eram frutas exóticas, saborosas, a tequila mostrava seus efeitos, Barbara ria por qualquer motivo, não estava preocupada com o que poderia acontecer. Voltaram pela praia e, pela primeira vez, entrou no mar vestida, nunca tinha experimentado aquela sensação, a renda branca grudada no corpo, a água fria, o vento morno. Arthur tirou-a da água, estavam deitados na areia olhando o céu, os dedos entrelaçados, ela fechou os olhos e se deixou conduzir. Foi a noite mais plena, ele pediu que ela ficasse para sempre. Quando o sol chegou, eram um só corpo, respirações ofegantes, todas as entregas. Amanheceu.

hunsaker

Sou o que sou. Sou incoerente por vezes, sou sonhador sempre, temo o desconhecido sem contudo deixar de arriscar, tenho planos e projetos, construí e ví cair em minha frente castelos. Como um anjo voei aos céus mas longínquos, e como um cometa caí. A queda me machucou, contudo me fez mais forte. Sou falho e impreciso. Simplesmente indefinível, enfim sou apenas um IGOR mas, o IGOR HUNSAKER.

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