São três garotas com histórias diferentes, vivências diferentes, mas em situações tão comuns. Eu não sei o nome de nenhuma delas, não sei quem são, quais suas memórias e seus traumas. Poderia ter sido uma namorada, poderia ter sido a minha melhor amiga ou até mesmo você que esta lendo este texto. Poderia ser qualquer uma de nós que enfrenta, diariamente, pequenas violências que destroem nossa segurança e causam danos irreparáveis. Ainda não sei o que aconteceu com essas meninas, mas alguma coisa nelas deve ter mudado.
Ela era loira, tinha cabelos lisos e usava óculos de grau. Uma das meninas mais bonitas que estava na festa, eu notei a sua presença assim que adentrou a porta do clube no sábado passado. A maioria dos caras também notou- até demais. Mas isso não parecia um problema pra ela, que se mostrava tão confiante.
A menina dançou todas as músicas sem se preocupar que estavam a olhando, bebeu algumas doses de tequila e dividiu várias latas de cerveja com sua amiga. A agitação fez com que ela começasse a suar e a alça da sua blusa cair o tempo todo do ombro. Ia oferecer uma joaninha para que ela se sentisse mais confortável, mas um cara chegou perto antes que eu pudesse tirar o objeto d bolso. Ele apalpou o corpo dela, e eu pensei: “Deve ser o namorado”. Não. Não era. Ela deu um tapa na cara do garoto, que, em vez de parar, chamou os amigos para intimidá-la e provocá-la. Ela saiu correndo, chorando. Toda aquela autoconfiança que eu notei minutos antes havia sumido e deu lugar a uma garota indefesa — que achou que um tapa na cara iria lhe dar mais segurança.
Não.
Não deu, na verdade tudo piorou…
***
Ela era morena, tinha cabelos curtos e olhos verdes. Estava no início da faculdade e foi chamada para uma entrevista de emprego — a primeira da sua vida. Num local majoritariamente masculino, a menina precisava atravessar um corredor para chegar à sala do gestor onde aconteceria a conversa. Claramente nervosa — não sei se pela entrevista ou pela situação -, a estudante dava passos largos como se o caminho fosse mais longo do que realmente era. Entre “elogios” como gostosa e “convites” como vem me beijar, a menina entrou na sala do coordenador.
Mas, ali, ela percebeu que o “futuro chefe” também fazia parte desse grupo. Elogiou seu desempenho, mas, mais do que isso, sua aparência. Ainda frisou o quanto seria estimulante para os garotos trabalharem com a presença dela ali. Agradeceu a oportunidade da entrevista, levantou-se da cadeira e fechou a porta daquela sala.
Mas a sua tristeza não ficou ali.
Foi junto com ela ao sair da sala, pois teve que fazer sexo para conseguir o emprego.
***
Ela era negra, tinha cabelos cacheados e baixa estatura. Saiu de casa, trabalhou, foi à aula e, quando chegou, ligou o computador. No seu Facebook, havia 10 notificações de comentários em uma foto que vestia uma blusa decotada. Na imagem, mensagens de “amigos” dizendo coisas como “gostosa”, “essa não é para casar” e “com uma roupa dessas, tá pedindo”.
A garota ficou inicialmente chateada e chegou a pensar em deletar todos aqueles meninos. Mas não o fez porque se sentiu culpada. Afinal, a foto estava realmente muito ousada e parecia se portar como uma garota fácil. Ela achou que merecia ler todas aquelas coisas. Apagou a foto e, desde então, não usa mais decote.